Para ler dentro e fora da Toca
“Quem não se comunica, se trumbica”
Já dizia o nosso saudoso e grandioso Comunicador, o velho guerreiro, Chacrinha.
Como anda sua comunicação com o mundo? O que você tem feito para para melhorar a comunicação com seu filho, alunos, amigos ou familiares?
Meu livro de cabeceira no momento tem sido Comunicação não violenta - de Marshall B. Rosenberg. Entre tantas outras obras infantis e alguns livros de estudo, sempre guardo um tempo para ler algumas páginas desta enriquecedora obra.
Tem uma citação neste livro que gosto muito “Para além das ideias de certo ou errado, existe um campo. Eu me encontrarei com você lá” (Poeta Rumi).
Coloquei ela em evidência na geladeira da minha casa e sempre que posso, leio e reflito sobre essa citação. Como é importante mantermos um diálogo livre de julgamentos e respeitando os pensamentos do próximo.
A Comunicação Não-Violenta, comumente abreviada para CNV, é um método comunicativo desenvolvido pelo psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg. Ele substitui nossos velhos padrões de defesa, recuo ou ataque diante de julgamentos e críticas. A partir de uma longa experiência prática como mediador de conflitos, ele chegou a quatro componentes básicos que guiam a CNV: Observação, Sentimentos, Necessidades e Pedido.
Para que você entenda melhor sobre os componentes, vou usar exemplos de como a CNV pode ser usada dentro de uma escola, com crianças...
Observação: As observações são isentas de qualquer tipo de julgamento e devem ser as mais precisas possíveis. Ou seja: deve-se evitar generalizações estáticas, transformando algo momentâneo em uma característica fixa. E como é isso na prática? Vamos a um exemplo: “Thiago é um aluno problemático”, neste caso, deveria ser substituído por “Thiago às vezes tem um comportamento agressivo e isso pode causar problemas”.
Sentimento: Precisamos falar como nos sentimentos e isso pode ser mais complicado do que parece. Na verdade, nós não estamos acostumados a expressar nossos sentimentos de maneira clara por diversos motivos. Seja por medo da exposição ou por qualquer outro.
Para entendermos melhor a afirmação acima, vamos a um exemplo prático: Joãozinho diz que não quer participar da aula de Educação Física porque sente que é um mau jogador. Mas qual é o sentimento nessa frase? “Mau jogador” certamente não é um sentimento. O que ele sente, na verdade? Ele se sente triste? Ele se sente desapontado, frustrado, excluído?
Distinguir com clareza o que sentimos é essencial para a Comunicação Não-Violenta.
Necessidade: Devemos ter a consciência de que o que os outros fazem ou dizem pode ser um estímulo, mas nunca a causa de nossos sentimentos. Os nossos sentimentos são resultado de como recebemos as ações alheias.
A opção que a CNV propõe, no entanto, é que escutemos os nossos próprios sentimentos e necessidades ou os sentimentos e necessidades dos outros. Quais são os desejos, expectativas, esperanças e necessidades que não foram atendidos, mas a pessoa necessita que sejam?
A partir do momento em que as pessoas começam a identificar e conversar sobre o que de fato precisam, de forma clara e desassociada de culpa e julgamento, é mais provável que comecem a trabalhar em maneiras de solucionar problemas e atender suas necessidades.
Pedido: Após identificarmos uma necessidade, nós podemos realizar um pedido que enriqueça nossas vidas. Um pedido não pode ser confundido com uma exigência. Por exemplo:
Quando dizemos “nós ficamos tristes porque você tira notas ruins na escola”, como seria possível transformar essa necessidade em um pedido claro? Que tal “Nós reparamos que as suas notas na escola não estão muito boas. Você poderia nos dizer se existe algum problema que está afetando o seu desempenho escolar?
Neste sentido, a CNV é, em essência, uma forma de nos conectarmos com os outros e de os respeitarmos independente de quem sejam.
Que tal começarmos a usar desde já no nosso dia a dia? Com nossas crianças principalmente? E que tal aliarmos esta forma fantástica de se comunicar com os livros? Aproveitar o momento da leitura e obter diálogos extremamente produtivos e reconfortantes.
Quem já se sentiu obrigado a tratar de um tema delicado com o filho antes do tempo que julgava ideal? Morte, doença, sofrimento, dificuldades financeiras, frustração, depressão são assuntos difíceis que gostaríamos de banir do universo infantil e até da vida, se fosse possível. Mas não é. Momentos tristes fazem parte da história de todos nós e deixam lições, inclusive para as crianças.
Como começar uma conversa complicada? Bons livros infantis podem ser a ponte para essas áreas onde nos sentimos pouco a vontade. Segue abaixo algumas dicas de livros infantis que poderão servir de verdadeiros amuletos para pais e/ ou educadores no momento de uma difícil e amedrontadora conversa.

Ninguém vai ficar bravo? (de Toon Tellegen e Marc Boutavani)
O jeito de lidar com os sentimentos ruins, inesperados, incompreensíveis e até desconhecidos varia muito de uma pessoa para outra. As tais habilidades socioemocionais são bastante individuais, e é isso o que essa história superdivertida pretende mostrar. Em 12 capítulos curtos, o livro apresenta um a um animais zangados e irritados quando expostos a situações novas. E se um elefante tivesse que subir numa árvore, como ele se sentiria? Quem sente mais raiva, um besouro ou uma minhoca? O que um rinoceronte e um hipopótamo tem em comum? Alguns tentam entender a raiva, uns se esforçam para domesticá-la, e outros são vencidos por ela. A partir de uma narrativa ricamente ilustrada em muitas camadas de texto e imagem, o livro propõe uma reflexão profunda sobre a natureza humana.

Tenho Monstros na Barriga (Tonia Casarin)
Onde nasce a emoção? Este livro acompanha o surgimento dos sentimentos bem de onde eles começam, na barriga. Mestre em Educação pela Universidade de Columbia, em Nova York, a professora carioca especializada em inteligência emocional Tonia Casarin conta a história de Marcelo, um menino que sente “várias coisas” na barriga e não sabe o que significa. Quando descobre que são sentimentos, Marcelo resolve chamá-los de “monstrinhos”. Ao longo da história, o menino narra os seus sentimentos e mostra oito monstrinhos: Alegria, Tristeza, Raiva, Medo, Coragem, Curiosidade, Orgulho e Ciúmes. A proposta é trabalhar as competências socioemocionais das crianças, incentivando-as a reconhecer e compartilhar seus sentimentos. A primeira tiragem do livro será viabilizada por financiamento coletivo no Catarse, e doada para escolas públicas, a fim de incentivar que o livro se tornasse um material de sala de aula. Conheça essa história, e veja como a ideia pode ser aproveitada na escola.

“A Raiva” (Blandina Franco e José Carlos Lollo)
“No começo era só uma raivinha à toa. Uma coisa boba, que nem tinha razão de ser, mas que, mesmo assim, era“, diz o livro. A premiada dupla Blandina Franco e José Carlos Lollo faz aqui a raiva virar personagem, representada por uma garatuja vermelha. O livro mostra do que ela se alimenta, onde ela gosta de ficar, como ela cresce, de onde ela vem. Uma narrativa de autoconhecimento em que o leitor é levado a se identificar com aquilo que inevitavelmente vai tomar conta dele um dia ou outro. A boa notícia (spoiler) é que a raiva não fica para sempre, e é parar de alimentá-la para ela perder força e ir embora.

Duas Casas e uma Mochila (Texto e ilustrações: Sonia Mendes e Jana Magalhães)
Este livro é quase um diário. Nele, os pensamentos e conflitos de uma garotinha são transmitidos ao pequeno leitor quase que num tom confidencial. Entramos, então, em seu universo infantil, numa fase difícil de sua vida: a separação de seus pais. Sua mochila, antes pesada, vai tornando-se leve, na medida em que constrói um lar a mais, junto de seu pai.

Orion e o Escuro (Texto e ilustrações: Emma Yarlett)
Nesta história, o garotinho Orion é muito esperto e inteligente, mas seu medo o impede de ter uma noite de sono tranquila e feliz e de curtir outros espaços da casa. Assim, para se ver livre de seu medo, ele cria ideias mirabolantes: uma lâmpada que dure para sempre, pintar o quarto com tinta fluorescente e até capturar o sol! Mas nada resolve! Até que um dia se cansa de tanto medo e, muito bravo, manda o Escuro ir embora! O que ele não esperava, era que o Escuro, em pessoa, iria lhe fazer uma visitinha!

O que tem Dentro da sua fralda? (Texto e ilustrações: Guido Van Genechten)
O ratinho quer saber: o que tem dentro da fralda do seu pequeno? Abras as abas e descubra a surpresa que é crescer! Este é um livro aclamado pelos pais e pequeninos que estão em processo de desfralde. Ele aborda o assunto de maneira descontraída e acessível à compreensão das crianças, o que facilita o avanço não doloroso neste momento.

Quero nascer de novo (Texto: Illan Brenmam Ilustrações: Catalina Echeverri)
Este é um ótimo livro para trabalhar a chegada do irmão mais novo com seu pequeno. A mamãe e o papai da Sophia encontraram uma maneira bem interessante de falar sobre o irmãozinho que vai chegar para ela. Com muito carinho e um bom diálogo, o amor toma o lugar do ciúme.

Menina Nina – Duas Razões para não Chorar (Texto e ilustrações: Ziraldo)
Preparem os lenços, pois este livro é pra lá de emocionante! Ziraldo apresenta a relação de Nina com sua avó Vivi. No desenrolar da história, nos deparamos com o fim da vida e com toda sensibilidade e respeito que cabem aos autores que tocam nesse assunto tão delicado. De forma magistral, ele fecha com dois motivos que vão te fazer repensar suas lágrimas.
Para os adultos que querem entender e melhorar a comunicação com suas crianças, amigos e pares, segue ...

Em um mundo violento, cheio de preconceitos e mal-entendidos, busca-se ansiosamente por soluções. Este livro é um manual prático e didático que apresenta metodologia criada pelo autor, voltada para aprimorar os relacionamentos interpessoais e diminuir a violência no mundo. Usando sua experiência como psicólogo clínico e criador do método da comunicação não-violenta, Marshall Rosenberg ensina o leitor a - se libertar dos condicionamentos e dos efeitos de experiências passadas; transformar padrões de pensamento que conduzem a discussões, raiva e depressão; resolver seus conflitos com os outros pacificamente; criar relacionamentos interpessoais baseados em respeito mútuo, compaixão e cooperação. O método é aplicável a centenas de situações que exigem clareza na comunicação - em fábricas, escolas, comunidades carentes e até em graves conflitos políticos.

Quem nunca se pegou ensaiando mentalmente um diálogo difícil e na hora H travou, ou falou tudo diferente do que deveria, arruinando uma importante conversa ou negociação? Mas, afinal, o que torna um diálogo difícil? Este livro de referência esclarece aspectos críticos da interação humana e demonstra como conduzir situações como pedir um aumento, fazer uma crítica, terminar um relacionamento, dizer não a alguém que precisa, se desculpar, discordar do grupo e tantas outras. Através do método derivado do best-seller Harvard Negotiation Project, que enfatiza o poder da comunicação bilateral, você vai aprender a transformar diálogos difíceis em conversas construtivas. Escrito por professores da Harvard Law School, apresenta uma importante ferramenta de educação e negócio para quem precisa lidar com crianças, pais, inquilnos, fornecedores, clientes, membros de equipe, inquilinos, pacientes e empregados. Aprenda a sair das saias justas, leia Conversas Difíceis.
E então, o que você acha de começar agora? Aproveitar todas essas dicas e transformar o momento da leitura? Ouvir e deixar que expressem seus sentimentos?
Maravilhoso não?!
Bora tentar!
E que nunca nos falte a imaginação...