Foi só uma mentirinha...
Hoje quero trazer para você um comportamento que de certa forma parece inofensivo ou até mesmo normal nos primeiros momentos, mas que se permanecer, poderá ser extremamente prejudicial para a criança. A mentira. Já existem diversos estudos mostrando que o número de mentiras contadas no dia passa da casa de centenas.
O ato de mentir, começa na infância, mas como a criança enxerga a mentira? E a partir de quando ela começa e perceber que pode tirar proveito contando umas mentirinhas, de vez em quando?
Uma pesquisadora chamada Victória Talwar, estuda este tema já algum tempo e chegou a importantes conclusões. Para ela a criança demora a entender o que é de fato a mentira. Quando muito novas, elas misturam o real e a imaginação e tendem a fazer interpretações erradas. No entanto, a partir dos 2 anos, elas já contam pequenas mentirinhas. Por volta dos 4 anos, cerca de 80% delas, quando submetidas a testes de “honestidade” mentem. Apesar disso, essas são pseudomentiras, feitas muito mais para manter uma boa imagem ou para satisfazer as próprias vontades. O hábito vai se aprimorando, até chegar à adolescência, quando a mentira se torna tão “profissional” quanto a de um adulto.
Achei muito interessante e oportuna a colocação da Victória quando ela diz que as crianças misturam o real com o imaginário. É exatamente como eu vejo e também acredito que neste momento é preciso existir muito cuidado para que também não se destrua o imaginário da criança.
Como as crianças com frequência, nos primeiros anos de vida, costumam não distinguir a realidade da fantasia, as coisas imaginadas passam a ser tão reais em suas mentes que elas são capazes de jurar de pés juntos que viram o seu personagem favorito escondido atrás da árvore e que precisa correr para se esconder.
Meu filho faz isso com frequência, quando voltamos da escola a pé os personagens sempre estão escondidos atrás das árvores e muitas vezes eu tenho que atravessar a rua para poder capturar alguns deles. Sim, eu entro na fantasia dele, pois me permito e não vejo problema nenhum nisso, volto a ser criança junto com ele.
As poucos, com o crescimento, a criança, e até mesmo o meu filho, aprenderá a distinguir o real do imaginário.
Agora se por outro lado toda essa confusão entre fantasia e realidade se tornar constante ou não se abater com a idade, o caso deverá ser debatido com alguém da área de saúde. Porque poderá estar associado a problemas de foro psicológico de fuga da realidade. Aí eu já não me sinto confortável em discutir pois não sou dessa área e não tenho subsídios para tal.
De qualquer forma, é muito normal as crianças chegarem longe nesta mistura da realidade e da fantasia — basta lembrar os amigos imaginários com quem falam e que «veem», que sentam à mesa ou com quem brincam.
Uma criança em idade pré-escolar já pode mentir para se defender ou para não assumir a responsabilidade do que fez, com medo das consequências. É um tipo de mentira muito vulgar, quase como se negando a verdade ela deixasse de existir.
A mentira assusta os pais e os cuidadores das crianças e muitas vezes eles acham impossível saber o que é verdade e mentira diante das situações que se apresentam no dia a dia. Neste momento, passam a ser verdadeiros detetives em busca da verdade perguntando várias vezes a mesma coisa, pedindo que a criança reconte o que aconteceu várias vezes, e isso além de cansar os pais, não funciona e só reforça o comportamento em que a criança vai se especializando em ser cada vez mais expert na arte de construir mentiras.
Claro que é necessário saber o que aconteceu. Pois assim o adulto conseguirá ajudar a criança a corrigir o comportamento indesejado e assegurar o seu bem-estar, consequentemente a ter um limite.
Em primeiro lugar importa perceber o que é a mentira e por que razão a criança está mentindo:
- atender as expectativas externas;
- não se satisfazer com os resultados que obtêm;
- comparar-se aos outros porque não está satisfeito sendo o que é e como age;
- sentir-se deslocada, inadequada;
- imaginação e fantasia fluida;
A verdadeira mentira, essa, implica alguma intencionalidade e está normalmente associada sobretudo a dois aspetos: evitar castigos ou desiludir o outro, ou conseguir algo que deseja muito, querer obter algo que se falasse a verdade não conquistaria.
Veja, também é importante não reforçar este comportamento de forma negativa. Rotulando por exemplo. Evitar os rótulos é sempre muito importante. Algumas vezes, as crianças contam histórias incríveis para chamar a atenção dos adultos. Se isso é constante e a verdade e a realidade passam para último plano, o facto pode traduzir alguma carência afetiva.
Muitas vezes as mentiras são um recurso usado quando a verdade é demasiado dolorosa ou humilhante, ou como chamada de atenção. O recurso à punição e ao castigo deve ser evitado, nada de ameaças de castigos ou de ressentimentos para com ela porque reforça a tendência para utilizar a mentira como estratégia de evitamento.
O KidCoach irá acolher e apoiar no sentido de estimular o sistema familiar e reforçar a relação de confiança, assegurando à criança que, por pior que tenha sido o comportamento, o importante é que ela seja capaz de o partilhar com os adultos próximos para que estes possam ajudá-la. Por vezes, será necessário que a própria criança sinta que o comportamento que quis ocultar teve consequências, nestes casos, mais do que castigar, é importante reenviar a criança para comportamentos que tendam à reparação do dano causado sem se dar a conotação de castigo, mas sim um assumir de responsabilidades.
Para finalizar gostaria de colocar a importância da congruência na relação com as crianças. Cuidado com as pequenas mentirinhas contadas em casa, por exemplo... Manda dizer que eu não estou, quando aquele colega liga e você não está com vontade de conversar.
Lembre-se: Crianças aprendem por neurônio espelho!
DICA KID PRECIOSA COACHING
– Elogie e valorize o comportamento positivo, mesmo que tenha feito alguma coisa que não deveria, mas por ter dito a verdade, ao invés de brigar, apoie a criança a reparar seu erro. Reconheça a coragem da criança em expor a verdade.
