Bibliotoca
Uma roda para mediar...
Ler é como chegar a uma horta e saber o que é cada planta e para que ela serve. Quem não sabe nada de “ler horta”, entra dentro dela e só vê um punhado de plantas de mato. Um monte de plantas diferentes, mas parecendo que é tudo igual. Quem não aprender a “ler” a horta, a conhecer os seus segredos, não sabe o que é cada uma, como é que se prepara cada uma, com o que é que se come (BRANDÃO, 2005, p. 49).
E quem são as pessoas responsáveis por ensinar as crianças a lerem a horta?
Posso afirmar que, os familiares, os professores, os bibliotecários, os escritores, os editores, os críticos literários, os jornalistas, os livreiros, os tradutores, e até os amigos que nos emprestam um livro ou indicam uma página literária na Internet. E estes podem ser chamados de mediadores da leitura.
É importante lembrar que os mediadores precisam estar conscientes da responsabilidade que têm. As crianças são mais flexíveis, inquietas, curiosas e desejosas de aprender o novo; portanto, desprendidas de conceitos e preconceitos, interessando-se em explorar tudo que está ao seu redor. Os pais, por exemplo podem ser considerados os primeiros mediadores de leitura na vida da criança e além de motivá-las também possuem a tarefa de aproximá-las do texto e principalmente orientá-las.
Quando não existe a possibilidade de uma família mediar a leitura da sua criança, seja por não terem condições culturais ou econômicas, cabe a escola realizar esta mediação.
E ela se dá através do professor que é encarregado de aproximar seus alunos da leitura, mostrando o texto como algo prazeroso e não como instrumento de avaliação e tarefa. Desenvolvendo o espírito crítico nas crianças maiores e a criatividade nos pequenos. Sempre com muita responsabilidade e consciência de que cada criança possui um tempo para a aprendizagem e isto deve ser respeitado.
Assim como, devem ter o entendimento de que existe conteúdo próprio para cada idade e que existe uma enorme diferença entre deixar a criança explorar sozinha determinados textos ou mediar os conteúdos.
Também cito aqui o importante papel da Biblioteca neste sentido. O Bibliotecário deve ter a responsabilidade de disponibilizar o acervo de livros de forma clara e convincente com seu público, principalmente se ele for infantil. Para isso ele precisa estar na linha de frente, no Balcão de Empréstimos, circulando entre as crianças, conversando com os professores. Enfim, entendendo as necessidades de cada um.
Esta era uma de minhas paixões quando dirigia a Biblioteca de uma Escola. Adorava o contato com os alunos e professores. Estava sempre acompanhando as turmas e me divertia sentada no chão com os alunos e os ajudando a escolher livros. Todo este contato me ajudava na hora de escolher obras para compor o acervo e principalmente me aproximava dos pequenos leitores. Fazendo assim com que eu soubesse exatamente o que cada um se interessava e se era necessário realizar alguma interferência na hora que escolhiam um livro para levar para suas casas.
Desenvolvi inúmeros projetos de incentivo a leitura e tenho muito orgulho especialmente de um deles feito para o Ensino Fundamental II, chamado: Roda de leitura com intervalo musical!
Na própria Biblioteca, os alunos se encontravam com a professora e mediadora Carolina (carinhosamente chamada de Zoca) e sempre um tema era proposto. Exemplo: O livro da vida. Era permitido também que trouxessem um instrumento musical para usarem durante a atividade.
Eu preparava o ambiente com carinho, para que todos se sentissem à vontade.
Ali então ocorria um bate papo mediado pela professora e o mais incrível, todos falando sobre leitura. A música fechava com chave de ouro e permitia um clima de alegria e descontração. Os alunos amavam.
Este é um exemplo claro de mediação de leitura que pode ser feito em uma escola em parceria com professores, alunos e Biblioteca. Funciona e traz excelentes resultados para todos. Ah! E pode ser facilmente adaptado para os pequenos leitores.
Para Rubem Alves a aprendizagem da leitura começa antes da aprendizagem das letras: quando alguém lê e a criança escuta com prazer. A criança volta-se para aqueles sinais misteriosos chamados letras. Deseja decifrá-los, compreendê-los – porque eles são a chave que abre o mundo das delícias que moram no livro! Deseja autonomia: ser capaz de chegar ao prazer do texto sem precisar da mediação da pessoa que o está a ler.
Neste sentido, posso dizer que a literatura infantil é um caminho que leva a criança a desenvolver a imaginação, emoções e sentimentos de forma prazerosa e significativa.
Leitores quando pequenos, melhore quando adultos. Existem dois fatores que contribuem para que a criança desperte o gosto pela leitura: a curiosidade e o exemplo.
E finalizo este post oferendo com carinho esta carta que se encontra logo no início de um livro infantil chamado – O livro vermelho. Adaptei o texto trazendo não só aos pais, mas também aos educadores e cuidadores que são figuras determinantes na formação do gosto e hábito de leitura das crianças.
Queridos pais, educadores e cuidadores,
Os livros são mais do que objetos para ler e folhear, são companheiros extremamente importantes para o desenvolvimento das pessoas. Seguindo nossas sugestões, vocês vão descobrir como utilizá-los da melhor maneira possível, cultivar e compartilhar com seus filhos ou alunos o inestimável prazer da leitura.
- Leiam seguidamente para as crianças porque isso lhes permite criar laços afetivos íntimos e intensos, estimula a capacidade imaginativa e o pensamento lógico delas, além de desenvolver sua capacidade de expressar-se de forma correta com um vocabulário mais rico;
- Através das cores das emoções, vocês compartilham com elas sentimentos, sensações, estados de espírito. Desfrutar dessas experiências por meio dos livros permite as crianças experimentar com a imaginação aquilo que depois ocorre na realidade, fazendo-as sentir-se mais seguras;
- Leiam os livros em voz alta, de forma expressiva, (sem exagerar) destacando bem as palavras, aumentando o ritmo se a história ou as imagens assim exigirem, porque escutar uma voz que sabe narrar, prepara e motiva a leitura individual;
- Deixem que as crianças abram e fechem os seus livros sempre que desejarem;
- Deixem que observem as imagens sozinhas também;
- Deixem que repitam em voz alta as frases que decoraram;
- Criem um espaço que as crianças tenham livre acesso a seus livros;
- Levem-nas a brincar com os livros e tentem inventar jogos para e com elas a partir da história lida, deixando que reinventem a história ou troquem o final;
- Pulem ou leiam rapidamente as partes que julgarem inadequadas;
Recordem que a idade aconselhada para os livros é mera sugestão, pois muita coisa depende da experiência de escutar de cada criança em particular.
Desejo do fundo do meu coração que exista a possibilidade das pessoas entenderem e terem um olhar sobre a importância de mediar a leitura de nossas crianças. Saber que cada um de nós é responsável por introduzir, amadurecer e formar os leitores do futuro.
E que nunca nos falte a imaginação...